Por Thaís Cavalcanti
Em cinco dias de julgamento através do júri popular, sessenta horas, com mais de dez mil páginas de processos, entre apresentação de provas, defesas, protestos em frente ao fórum e – sobretudo – tensão, o Fórum de Ipojuca sintetizou os sete anos de investigações do caso de maior repercussão da história criminal do estado recentemente para que, por fim, pudesse obter um desfecho final.
No banco de réus estavam os kombeiros Marcelo e Valfrido Lira, acusados de duplo homicídio das adolescentes Tarsila Gusmão e Maria Eduarda Dourado, desaparecidas em 3 de maio de 2003 e encontradas mortas, dez dias depois, num canavial no distrito de Camela, em Ipojuca, por José Viera de Melo (pai de Tarsila) e amigo, em busca paralela com autorização da polícia.
Na madrugada deste sábado (04), funcionários públicos de Ipojuca, decidiram, com quatro votos a três, a inocência dos suspeitos que, então, foram oficialmente absolvidos pela juíza Andréa Calado. Os kombeiros, que estiveram em breve prisão temporária em 2003 e posteriormente permaneceram em 2008, foram recebidos com festa por amigos e familiares após o veredito favorável, com direito a cartazes, fogos de artifício e banda de música.
Durante o julgamento, a juíza Andrea Calado teve de suspender diversas sessões devido a alguns incidentes no processo: várias pessoas passaram mal (entre eles o ex-promotor do caso, Miguel Sales e a mãe de Maria Eduarda, Regina Lacerda) e houve grandes desentendimentos e troca de farpas entre o advogado de Defesa Jorge Wellington (41) e o promotor Ricardo Lapenda (53). Ainda, outros personagens foram amplamente relembrados e discutidos durante as sessões, dentre eles o ex-promotor do caso, que teve sua conduta profissional questionada, e Regivânia Maria da Silva, testemunha que afirmou ter visto as duas adolescentes entrando na Kombi dos Lira. Ademais, o júri popular também serviu como uma aula de direito penal para estudantes universitários que foram acompanhar de perto o caso.
Entretanto, mesmo tido como encerrado o julgamento dos antigos suspeitos, a decisão ainda gera repercussão: o promotor Ricardo Lapenda entrou com recurso no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) pedindo anulação do julgamento, alegando que uma das pessoas que faria parte do júri era parente dos irmãos. Os pais das adolescentes, confiantes na culpa dos réus, também não se mostraram satisfeitos com a decisão. “Perdemos apenas o primeiro round. Vamos recorrer da decisão”, frisa Antônio Dourado, pai de Maria Eduarda.
Com a decisão, o caso volta à estaca zero e o crime continua impune e sem ter conhecimento da real história do assassinato das adolescentes. “Prometi a minha filha que se vivesse até os 90 anos, iria lutar todos os dias para que ela tivesse justiça. Continuarei buscando minha promessa”, afirma José Vieira, pai de Tarsila.
O julgamento do caso foi acompanhado por telejornais todos os dias em nível local e tido suas principais notícias veiculadas também a nível nacional.